Bexiga Hiperativa e Incontinência Urinária de Urgência

Bexiga Hiperativa e Incontinência Urinária de Urgência

A incontinência urinária (IU) é uma patologia comum, estimando-se que actualmente possa atingir aproximadamente 20% da população. Esse valor tem tendência a crescer em virtude do progressivo envelhecimento demográfico. É uma das doenças crónicas mais prevalentes, apesar de não ser frequentemente reconhecida. Sendo mais comum na mulher, ocorre também em homens, submetidos ou não a procedimentos cirúrgicos prévios.

A Incontinência Urinária interfere com a vida familiar e social, causa embaraço, afecta a auto-estima e diminui consideravelmente a qualidade de vida. Tem também elevado impacto económico. O custo anual directo da incontinência urinária é semelhante ao de outras doenças crónicas como a artrite, a doença de Alzheimer ou a osteoporose.

Para além disso, ainda hoje se trata de uma patologia estigmatizante, associada a ideias de pseudo-normalidade, o que faz com que muitos doentes tenham vergonha de a referir aos profissionais de saúde, ou simplesmente considerem que é um processo normal decorrente do envelhecimento.

A IU de urgência é um dos subtipos de IU e normalmente ocorre quando as perdas urinárias surgem após uma vontade súbita, imperiosa, de urinar, difícil de adiar, e que não dá tempo suficiente para que o indivíduo chegue a um local onde seja socialmente adequado o esvaziamento vesical.

A IU de urgência acaba por ser uma das consequências decorrentes da bexiga hiperactiva. Denomina-se hiperactividade da bexiga às contracções involuntárias do músculo da bexiga (detrusor). Em circunstâncias normais, a bexiga contrai apenas quando conscientemente damos ordem para que isso aconteça. Contudo, na bexiga hiperactiva, essas mesmas contracções não são comandadas pela vontade. Ocorrem involuntariamente. A manifestação clínica dessas contracções é uma vontade miccional urgente, repentina, de difícil controlo, e que pode estar associada a perdas urinarias (IU de urgência).

A avaliação inicial do doente carece sempre de uma história clínica detalhada, com enfoque na história obstétrica, cirúrgica, medicamentos e doenças que possam interferir com o normal funcionamento vesical ou antecedentes de grandes traumatismos. O diagnóstico da IU de esforço é clínico e passa pela observação directa da perda involuntária de urina com manobras provocatórias. Nesse contexto o exame físico é da maior importância, uma vez que permite avaliar detalhadamente o pavimento pélvico, verificar a ocorrência de prolapsos dos órgãos pélvicos, testar a força / tónus muscular e pesquisar alterações da sensibilidade e reflexos perineais.

Existe uma associação entre IU e vários factores:

  • multiparidade (principalmente se partos demorados ou instrumentados / lacerações perineais);
  • doenças crónicas (diabetes, acidentes vasculares cerebrais, Parkinson, Alzheimer, doenças cardíacas, hiperplasia benigna da próstata, doenças psiquiátricas);
  • cirurgias pélvicas (urológicas, ginecológicas, colo-rectais)
  • obesidade/ excesso de peso.

A investigação complementar poderá carecer do recurso a diversos exames de imagem, a estudo laboratorial detalhado ou até mesmo à realização de um exame urodinâmico. Este último é o ‘gold standard’ da avaliação funcional de bexiga permitindo, na maior parte dos casos, um esclarecimento completo das causas e circunstâncias em que acontecem as perdas urinárias.

A definição de um plano de tratamento depende de múltiplos factores, nomeadamente: a gravidade das perdas urinárias (volumetria), o impacto na qualidade de vida, os custos associados (gastos com protecções), vontade manifestada pelo doente de ser submetido a procedimentos invasivos, eventualmente cirúrgicos.

Em primeiro lugar é importante adoptar um estilo de vida saudável, com cessação tabágica, a prática regular de exercício físico e a perda ponderal nos casos de excesso de peso / obesidade.

Contudo, quando essas atitudes não são suficientes, temos actualmente múltiplas opções terapêuticas, com graus progressivamente maiores de complexidade, que podem ir desde a elaboração de planos de exercícios de reforço dos músculos do pavimento pélvico (com recurso a diversas técnicas da área da Medicina Física e de Reabilitação), ao tratamento farmacológico, passando por diversas intervenções cirúrgicas minimamente invasivas (como a injecção intravesical de toxina botulínica), até à implantação de dispositivos mais complexos como neuroestimuladores (procedimentos no âmbito da Urologia).

Em resumo, a IU de urgência é um problema de saúde do qual todos temos elevada probabilidade de vir a sofrer, de diagnóstico e investigação relativamente simples, e com tratamentos pouco invasivos e muito eficazes. O primeiro passo cabe a cada um de nós.

Dr. Vítor Hugo
Urologia
Braga

O conteúdo cientifico reproduzido nesta página foi desenvolvido pelo profissional de saúde mencionado.

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